Alia é azul.

Alia é azul e deu filhos.
Comecei uma brincadeira comigo e com a vida, que foi chamar a Alia de Alia, esta Lia que é "A" e se Alia por ser ela e Lia...
Alia é a planta que eu cuido, chama não me esqueças popularmente, ou, miosótis. Ela é pequenina, embora possa crescer bastante galhos, se não lembrar de aguá-la todos os dias ela logo se retrai, fica chocha, tímida, quase triste...
Teve uma época que Alia, meu amor, pegou cochonilas, cochonhilhas, cochonilhas, não sei, eram muitas e eram uns bichinhos brancos, míudos, não dava nem para ver patas ou olhos, como casulinhos apegados no seu galho. Alia estava sofrendo ataques e eu nada sabia sobre cochonilhas...
Neste mesmo período, eu esquecia de regá-la, se um hábito feliz que aprendi, é de que quando eu me lembrasse dela eu regasse, e a partir daí se tornou mais fácil me assegurar de que eu a regue ao longo do dia e cuide dela... , pois, e ela emagrecia, e mudava de cor para uma mais cinzenta, e deixava de ser verde com azul...
Isto me deixou desesperado. Pedi ajuda a amigos para saber o que eram, e me recomendaram a poda, e a extração dos galhos onde tinham muitas famílias cochonilhas, a tão famosa poda, meu coração doía de imaginar fazer ela passar por isso, com medo, tirei alguns galhos com pena, e esperei melhora rápida, nada... Daí deu o Ano Novo, eu viajei, pedindo Trabalho e Amor para os céus, quando na verdade eu havia deixado meu amor, Alia, em casa, e quando voltei, estava magrinha e muito subnutrida, pois embora eu pedisse ao meu pai que regasse todos os dias, ela ficou mucha, chocha...
Cheguei e me ative a cuidar dela, agora, podando apenas com as minhas mãos, sofrendo por tirar seus galhos magros, ( e nem precisava de esforço muscular nos dedos para tirar, estava tão frágil... ), e descobri o famoso chá de fumo. Pedi a um tio meu para comprar, nada... Esperei um bocado de tempo, e tentei soluções químicas, como Sabão em Pó muito diluído antes da noite, pois de manhã o sabão em pó pode de alguma forma queimar a planta com as reações fotoquímicas...
Podei quase tudo de Alia, de 100 galhinhos, e umas 4 caules que saíam do chão, só ficaram uns 20 galhinhos e 2 caules salvos... Eu estava dilacerado, triste, muito.
Daí fui cuidando de Alia, e coloquei uma escovinha ao lado dela para checar as cochonilhas e retirá-las sempre que eu a aguásse... e, ela está sadia e floresce hoje, seus galhos já desenvolvem proteção, como que um pelinho que impedisse os insetos no geral de ficarem perto dela, e também como camada quem impede que cheguem em sua seiva. Alia já era forte, mas agora, sei que ela pode contar comigo pra dar uma ajuda quando posso, e que isso é muito necessário...
 Alegro-me sempre com o seu florescer, ela antecipa as chuvas e dá boas vindas à água mostrando suas flores e seus esmeros para agradar, e hora ou outra, ver que os esmeros crescem é uma sensação que trás riso e descontração, pois ela podia muito bem fazer mais folhas e galhos, mas se distribui assim pois imagino que o solo, ainda pequeno, não aguentaria que ela crescesse muito, e de que ela se lembra do sufoco que passou mais cedo, e está se revigorando para crescer de novo...
Tem algo de engraçado em uma Alia que floresce suas flores, acho que a palavra certa é mesmo essa, graça, coisa alegre e feliz.
Dia destes, eu fui tirar algumas cochonilhas e por falta de cautela, alguns galhos seus saíram enquanto eu passava a escovinha. Fiquei triste, não tão triste quanto eu ficaria tempos atrás, quando eu via um galho seu cair por falta de cuidado meu, eu sentia que feria ela inteira, tirando e podando... Não deixo de acreditar que ainda o faça, mas amigos me ensinaram que quando um galho cai, ou coisa assim, pode pavimentar o solo dela, e favorecer matéria orgânica, então, pedindo perdão, coloquei as suas folhas e galhinhos ali, no meio do jarro...
Na outra manhã, um de seus galhos caídos, tinha florescido sem estar em contato com a raiz ou com o solo. Novamente, é muito engraçado uma planta que floresce!
Fiquei feliz. Chamei um amigo, e resolvi dar a ele este ramo de Alia... , ele acompanhou comigo muito dos meus sofrimentos e alegrias neste caminho, e quis presenteá-lo...
Ele cuidou, colocando ela em um jarrinho de água. Sei que Aliazinha cria raízes. E acho novamente, muito cheio de graça pensar novamente, que Alia é o meu amor... tenho de aceitar que deu filhos e o compartilhei...
Calmamente, Alia me ensina muito sobre a vida e o amor.
Agradeço a ela muitos dias, e me lembro do Saramago que se achava bobo por conversar com as plantas... reconheço algo de muita graça em nós, homens que conversam e cuidam das plantas... e um sorriso, riso é difícil de conter quando penso nisso,
Pois é felicidade, alegria, a Alia.

Nota: Ela, meu amor ainda me levará para um lugar frio, um pouco mais úmido, talvez no Sul do Brasil, pois sei que ela se dá melhor nestas condições, e ainda gostaria muito, que ela apronfudasse suas raízes, ou que abelhas e outros polinizadores viessem ter com ela. Outro dia, vi uma miosótis sendo beijada por uma abelhinha, e não contive a minha alegria de saber que aqui em Fortaleza há a possibilidade disso...

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